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Julie & Julia:

1948. Julia Child (Meryl Streep) é uma americana que passou a morar em Paris devido ao trabalho de seu marido, Paul (Stanley Tucci). Em busca de algo para se ocupar, ela se interessou por culinária e passou a apresentar um programa de TV sobre o assunto. Cinquenta anos depois, Julie Powell (Amy Adams) está prestes a completar 30 anos e está frustrada com a vida que leva. Em busca de um objetivo, ela resolve passar um ano cozinhando as 524 receitas do livro de Julia Child, "Mastering the Art of French Cooking". Ao longo deste período Julie escreve para um blog, onde relata suas experiências.


Baseado em duas histórias reais, Julie & Julia intercala a vida de duas mulheres que, apesar de separadas pelo tempo e pelo espaço estão ambas perdidas... até descobrirem que com a combinação certa de paixão, coragem e manteiga, tudo é possível.


A diretora, produtora e roteirista Nora Ephron conquistou uma legião de fãs ao brindar o cinema com Mensagem para Você e promover Tom Hanks e Meg Ryan ao posto de casal queridinho do cinema na época. Mas de lá para cá muita coisa rolou e seu nome, embora comentado aqui e ali, não deu aquela decolada. Agora, Ephron, que não obteve sucesso com A Feiticeira em 2005, está de volta ao gênero suave que a consagrou e com um roteiro inteligente conseguiu, a partir de dois livros e duas histórias reais, contar Julie & Julia.


Assim, você vai conhecer duas mulheres com nomes parecidos, igualmente apaixonadas por manteiga e "perdidas" na vida, mas salvas pelo amor a culinária. Uma (Julia) era casada com um diplomata, se apaixonou pela França e tornou-se uma chef de sucesso. A outra (Julie), uma escritora frustrada, que trabalhava numa central de apoio às vítimas do ataque de 11 de setembro, mas a sintonia com "a cozinha" de Julia transformou-se em obsessão de preparar as 524 receitas da mestre cuca em 365 dias. E o que pode parecer uma ideia lélé da cuca transformou-se num longa interessante, que fala, entre outras coisas, do antigo machismo e do novo mulheres no poder. E o roteiro, por exemplo, explorou bem a questão do tempo que as separa, pontuando as diferenças como os apetrechos na cozinha (centrífuga X máquina manual) ou o ato de escrever (máquina X notebook) e, curioso, serve para mostrar que a modernidade mudou muita coisa, mas o prazer de comer continua o mesmo. Destaque para a necessidade e constatação que para ser alguém (na rede mundial) tem que ser "comentado".


Julie & Julia fala da importância de se ter objetivos na vida, de perseverar, de mulheres obstinadas e apresenta em seu cardápio dois "doces" maridos que apoiaram, quase que incondicionalmente, suas esposas nas confusões que temperaram suas respectivas histórias. Entre os ingredientes da receita de Ephron para mover o filme adiante, as passagens de tempo são vitais e muito bem realizadas, transitando com facilidade entre passado e presente sem deixar  "queimar" a paciência do espectador. A trilha sonora é coerente com os "tempos" dos personagens e tem até Talking Heads. O longa é, acima de tudo, uma declaração de amor à arte de cozinhar. Ou, se preferir, um verdadeiro 'food movie', fazendo uso de um neologismo barato e importado. Tem pitadas de humor e pequenas doses de drama pessoais suficientes, apenas, para conferir um temperinho a mais nas protagonistas, mas nada que passe do ponto. É um filme morno, agradável de se ver e escorado nas boas atuações de Amy Adams e Meryl Streep, impagável com seu sotaque franco-americano. Bon appétit! Quer dizer, boa sessão!

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